Casa das Caldeiras

Casa das Caldeiras um patrimônio cultural que oferece eventos diferenciados.

arte,
território,
patrimônio.
e agora pessoas.

o nosso Manual na Revista da Cultura

por Clariana Zanutto - foto Milene Milan

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Jun 06, Wednesday

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Kakaeka

o nosso Manual na Revista da Cultura

O PODER DE INSTIGAR
Trilhando caminhos diferentes do BuZum!, mas com o objetivo comum de estabelecer um diálogo com o público e sempre instigá-lo a discutir assuntos atuais, o Grupo Esparrama, a Trupe DuNavô e o projeto Manual da Família – A arte de educar no séc. XXI também acreditam na força do teatro para o crescimento cultural e educacional da criançada. Iarlei Rangel, diretor do Grupo Esparrama, conta que é essencial “passar para a plateia um tema que está nos inquietando e sobre o qual sentimos necessidade de nos debruçar, para entendê-lo melhor. Acreditamos que cultura e educação são complementares na medida em que o diálogo colabora para a construção de um conhecimento comum, no nosso caso, entre o público e os artistas”.

FOTO MILENE MILAN
 


Para Gabi Zanola, integrante da Trupe DuNavô, o encontro de gerações com montagens que estimulem tanto crianças quanto adultos é muito importante. “Não subestimando a criança, mas sim apresentando temas intrigantes, propondo reflexões importantes, necessárias e falando de sociedade ao mesmo tempo em que juntos nos divertimos. Trabalhamos em diferentes espaços e queremos propor experiências distintas para o público. Queremos levar a linguagem do palhaço para os lugares mais improváveis, subverter esses espaços e ressignificá-los através do riso.”

Já Karina Saccomanno, que faz parte do Manual da Família – A arte de educar no séc. XXI, revela que o objetivo do projeto é a tomada de consciência de cada membro de uma família para seguir como protagonista de seu próprio caminho. “Entendemos que resgatar as histórias pessoais e as histórias do coletivo, permeando-as com os aspectos culturais, nos faz reconhecer quem somos, de que forma afetamos e somos afetados e como podemos atuar. Propomos sempre o exercício de percepção sobre si e sobre o outro, praticando novos olhares, um fazer com maior intenção, introduzindo e resgatando hábitos para o melhor convívio que impactam nas relações afetivas e sociais.”

Artista autônoma, Duda Maia não faz parte de nenhum grupo de teatro, mas trabalha com projetos nos quais é convidada para dirigir, como a peça A gaiola, que esteve em cartaz no início do ano na capital paulista. Para ela, cultura e educação são dois segmentos que andam juntos. “Se você faz um trabalho artístico de qualidade, explorando e mostrando pontos de vista sobre um tema importante, você está contribuindo com a educação de quem assiste. A educação de fazer pensar, de sair da ignorância e ter opinião sobre algo. Quando a arte tem apenas um papel ilustrativo, para mim, não faz sentido algum.”

Com propostas diferentes, mas objetivos similares, todos os grupos sempre esperam aquele sorrisão no rosto do público antes, durante e após uma apresentação. “Costumamos dizer que é ‘uma viagem num ônibus parado’. Os artistas, em contato com o público infantil, presenciam uma alma que não está acostumada com aquilo e realmente se entregam e vivenciam verdadeiramente as histórias de uma forma muito intensa e receptiva, além de assimilarem o conteúdo que propomos. O teatro realmente tem o poder de transformar”, conta Beto. Para Karina, as falas mais comuns que ouvimos durante e ao final de cada vivência é o sentimento de leveza, bem-estar, conexão, felicidade, reflexão, introspecção, surpresa, amor. Elementos essenciais para impulsionar as transformações pretendidas.

Duda, por sua vez, complementa: “É sobre esse brilho no olhar, sobre ver crianças e adultos emocionados com as histórias que contamos. E tenho também como diretora outra alegria em meus trabalhos, que é ver toda uma equipe, atores e técnicos, gostando de estar ali, comprometidos com essa história, sem cansar, querendo que cada vez mais outras pessoas as vejam”.

ARTE TRANSFORMADORA
Um dos maiores desafios das companhias de teatro, além de conseguirem patrocinadores que apoiem seus projetos, é atrair a criançada para suas apresentações. Com tantas opções tecnológicas disponíveis para divertir e instruir os pequenos, por que levá-los ao teatro? “Acreditamos que todo o contato artístico possa realmente transformar a vida das pessoas. Esse contato com as artes, principalmente com a criança que está em etapa de formação de caráter e conhecimento, pode desencadear um processo muito positivo para o despertar da consciência individual”, diz Beto. Já Iarlei revela que o Esparrama tem “se empenhado cada vez mais em criar espetáculos em que os adultos e as crianças possam se divertir juntos, obras que se comuniquem com as especificidades desses dois públicos sem apartá-los”.

Uma dificuldade constante, como aponta Duda, é o acesso. Ou seja, como trazer uma escola de longe ou levar um trabalho em que há aparatos técnicos sofisticados para teatros com menos estrutura. Para ela, são necessários “mais projetos sociais, mais trabalhos ligados à acessibilidade para portadores com necessidades especiais, um maior número de empresas levando para lugares carentes e cidades menores”.

Com um potencial imenso a ser explorado, há duas linhas muito claras quando o assunto é teatro infantil: tanto uma produção voltada para o interesse nitidamente comercial, como vendas de produtos para os pequenos, quanto uma outra mais preocupada com conteúdo. E ainda há projetos que mesclam essas duas linhas. “Existe uma produção de conteúdo de qualidade muito significativa no Brasil de audiovisual e teatro. De uma maneira geral, popularmente o acesso à cultura é menor, mas existe um grande mercado de cultura para crianças”, ressalta Beto. Já Karina enfatiza: “Acreditamos e buscamos uma cultura pública, em que todos, independentemente de sua idade, situação social, localização, tenham acesso. Existe muita gente realizando projetos de grande qualidade, mas ainda poucos têm acesso. Por isso a importância de uma cultura efetivamente democrática”.

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