Diário do Manual #23
uma aldeia que educa
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Date
Nov 11, Thursday
Posted by
Kakaeka
Será preciso reinventar uma aldeia para educar uma criança?
Que aldeia é essa que vai educar nossas crianças? Com seus modos, seus valores e sua cultura... E as crianças, seriam elas capazes de reinventar e transformar uma aldeia, ocupando e experimentando os espaços sob os cuidados de seus familiares?
Podemos conceber uma aldeia que coloque as crianças no centro, interagindo, transitando, brincando e aprendendo. Uma aldeia que por meio desta "distração" transforme lógicas e relações e se reinvente.
Quando pensamos no desenvolvimento de nossas crianças é essencial que se tenha em mente que parte do aprendizado e do desenvolvimento delas como cidadãos do mundo acontecerá a partir da realidade local em que vivem. Isso inclui a casa, a creche, a escola, as ruas e praças do bairro e a forma como elas convivem com as outras crianças, com os adultos da família, do bairro.
Como a comunidade recebe e se encontra com essas crianças? Como os adultos dividem o espaço com essas crianças?
Será que o motorista da perua escolar é um bom contador de histórias ou cantor? E a dona da lanchonete da escola que os alunos adoram? Será que ela não tem uma receita bacana para compartilhar numa sessão bate-papo e cozinha com os alunos?
Para além das creches e escolas, não podemos nos esquecer que as crianças tem uma gama imensa de possibilidades de ocupação do espaço público e que as cidades deveriam ser espaços de encontro.
Você já teve a oportunidade de observar um grande grupo de crianças andando pela cidade? Elas param o trânsito, arrancam sorrisos e promovem uma quebra no cotidiano.
Que tal agitar um passeio com a galerinha da escola dos seus filhos, uma volta pelo bairro, identificando possívels espaços de brincar e de descontrair? Ou então, fazer uma caminhada coletando histórias dos comerciantes do bairro, cada um escreve, desenha, pinta inspirado no que achou legal!
Desde os anos 90, países do mundo todo tem firmado diversos compromissos e trabalhando em políticas públicas para que as cidades sejam amigáveis com crianças e com os bebês. São inspirações para que as cidades sejam territórios que ofereçam pleno desenvolvimento e qualidade de vida para nossos pequenos cidadãos e que se tornem lugares educativos – Aprender na cidade, com a cidade e com as pessoas.
Vivemos em um tempo em que constantemente precisamos deixar as nossas crianças atrás dos muros dos nossos condomínios, descobrindo o mundo pelos celulares e tabletes, por vídeos e pela TV. Cada um cuida do seu pequeno núcleo e com isso vamos aumentando os abismos entre as relações. São hiatos que a própria vida cotidiana impõe, seja ela urbana ou no campo.
Mas cabe a cada um de nós que convive com um bebê ou com uma criança, ampliar as possibilidades de convívio e socialização. Colaborar para que esta criança ocupe de fato um lugar que também pertence a ela: a cidade.
Talvez você precise utilizar artifícios diferentes para garantir o interesse delas. Então use a criatividade! A arte pode te ajudar nesta missão!
Que tal ir com seus filhos para um lugar diferente e fazer desenhos de observação do espaço? Ou de repente montar uma instalação bem colorida com aqueles retalhos de tecido que estão escondidos naquele quartinho de bagunça da família!
A pracinha do bairro está um pouco descuidada. Um multirão com as crianças para a revitalização da praça pode despertar um grande interesse e um sentimento de pertencimento. Além de proporcionar momentos de encontros e trocas entre as pessoas do bairro.
Se todas essas alternativas ainda parecem complicadas, que tal simplesmente sair para brincar? Crianças e adultos podem se juntar para um dia de brincadeiras.
Precisamos dar à brincadeira a importância que ela precisa ter em nossa sociedade.
Precisamos cultivar o brincar, mesmo com todo o nosso cotidiano apressado e muitas vezes turbulento. Encarar que como adulto, você tem responsabilidade e precisa articular momentos para que as crianças brinquem. É nossa tarefa!
Se você não consegue sozinho, por falta de tempo, peça ajuda! Divida com outros pais. Faça amizade com as famílias da escola do seu filho e vocês podem ir se revezando. Cada semana é a vez de uma família se mobilizar para o brincar coletivo.
Crie uma rede de parcerias e envolva a comunidade. Todos podem se ajudar!
Vale observar as crianças com atenção, respeitando sua autonomia, permitindo que ela se sinta valorizada e reconhecida como indivíduo. Valorize essas novas interações e aprenda com elas.
Converse, pergunte para o seu filho o que ele pensa sobre o bairro onde mora, do que ele tem medo, onde ele gostaria de ir, o que ele gostaria de mudar. Ajude-o a lidar com o que é diferente e assustador, apresente possibilidades de enfrentar o desconhecido, estimule a convivência dele com as outras pessoas do bairro, desperte o interesse no trabalho coletivo.
Faça perguntas! Ouça as crianças com interesse! Pode ser no mínimo divertido e interessante. Com certeza você irá se surpreender!
Jorge Larrosa:
"A língua da criança não é necessariamente a mesma dos adultos. Bem como a infância não se refere apenas as crianças, mas também a nós adultos, pois, estamos em constante reinvenção. Nós apenas temos idéias sobre o que são as crianças, entretanto, não sabemos o que elas realmente são. Para que a criança seja realmente conhecida, é necessário que se desaprenda todas as verdades positivas que ocultam a verdade acerca das crianças."
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